Rito de York
Ritual de Emulação*

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O Ritual Emulação, estabelecido em 1813 por ocasião da União das duas Grandes Lojas então existentes na Inglaterra, remonta de uma longa tradição anterior ao próprio surgimento da Premier Grand Lodge, em Londres, em 1717. Ao longo deste capítulo, serão detalhados os aspectos históricos que envolvem o surgimento deste ritual e sua disseminação no universo maçônico.

Muitos maçons pensam que o Emulation [Emulação] é um rito. Não é. Na verdade, não se trata de um rito, mas sim de um ritual pelo qual ele é expressado e demonstrado. Na Inglaterra o rito é inominado. Os ingleses não consideram rito, eles consideram rituais. Por esta razão, faz-se necessário uma explicação preliminar para que o assunto seja bem compreendido pelos leitores e eliminada qualquer possibilidade de confusão quanto ao entendimento do que seja rito e ritual.

            Rito representa as regras e cerimônias de caráter sacro ou simbólico que seguem preceitos estabelecidos e que se devem observar na prática. Em síntese representa o sistema de organizações maçônicas.

Ritual, representa o livro que contém o conjunto de práticas consagradas pelo uso, por normas ou ambas, e que se devem observar de forma invariável em ocasiões determinadas. Sintetizando, é o cerimonial.

            O Ritual Emulação surge na Inglaterra após a união das duas Grandes Lojas, a dos “Antigos (1751)” e a dos “Modernos (1717)”, em 1813. Deste fato, resultaram inevitáveis variantes, sobrevivências das diversidades e costumes regionais. Estas variantes, por sua vez, representam os rituais, ou mais especificamente, os trabalhos [workings] praticados pelas Lojas inglesas. Os principais rituais ingleses, ou formas ritualísticas são: o Emulation, o Logic, o Bristol, o Taylor’s, o Stability, Humber e o West End. Existem alguns outros, mas estes são os mais conhecidos.

Antes de prosseguirmos no assunto, é mister esclarecer ao leitor que a partir de 1813 a Grande Loja Unida da Inglaterra aprovou e confirmou a forma do Ritual Emulação, entretanto isso não quer dizer que o procedimento ritualístico tenha surgido a partir desta data. Ele já era praticado pelas lojas antes de 1717, com pouquíssimas variações da forma atual.

            A palavra Emulação, no conceito maçônico, significa seguir o exemplo; imitar. Seguir o exemplo no sentido de reproduzir as cerimônias maçônicas praticadas pelos antigos maçons da Inglaterra, uma vez que as origens e o berço da Maçonaria se situam naquele país, cabendo, portanto, aos novos seguir o exemplo das antigas práticas ritualísticas, perpetuando-as.

 

Histórico do Ritual Emulação

Durante muitos anos antes da união das duas Grandes Lojas rivais, a dos Modernos (de 1717) (1) e a dos Antigos (de 1751) (2), muitos esforços de bastidores foram empreendidos para padronizar as formas ritualisticas, ou seja, aquilo que entendemos hoje por rituais.

            Em 1794, dois Grão-Mestres John 4º, duque de Athol, Grão-Mestre dos “Antigos” e George, Príncipe de Gales, Grão-Mestre dos “Modernos” solicitam ao Príncipe Edward, mais tarde duque de Kent, Grão-Mestre dos “Antigos” em 1813, que arbitrasse o trabalho de unificação.

            Em 1809, a primeira Grande Loja (dos Modernos) tomou a iniciativa neste sentido, promovendo a fundação da Loja da “Promulgação” com o objetivo de estudar os Landmarques e as práticas esotéricas para recomendar as mudanças que deveriam ser feitas no sentido de trazer os rituais a uma forma aceitável, visando de antemão a preparação para a união das Grandes Lojas rivais. Um corpo similar foi fundado pelos (Antigos).

            Em 7 de dezembro de 1813 é criada uma loja mista (3) – Lodge of Reconciliation [Loja da Reconciliação] – que harmoniza os rituais. O trabalho foi efetuado oralmente, respeitando a proibição de nada escrever a respeito do “segredo maçônico”. Nenhuma ata foi redigida, assim como foi proibido até tomar notas.

            A Loja da “Reconciliação” passa a apresentar, na prática e oralmente, o novo ritual harmonizado para as Lojas de Londres e arredores. Essas apresentações prosseguiram durante três anos ininterruptos. Com esta providência a forma ritualística do novo ritual praticamente foi padronizada em toda a Inglaterra.

            Em junho de 1816, as formas dos rituais para uso na nova Grande Loja foram demonstradas pela Lodge of Reconciliation [Loja da Reconciliação], constituída especialmente para produzi-las, as quais viriam documentar, oficialmente por numa resolução e pela primeira vez, as Cerimônias praticadas até então.

            Assim, em 1816, surge oficialmente um novo ritual, “aprovado e confirmado” pela Grande Loja Unida da Inglaterra, resultado de um longo trabalho iniciado em 1794, coroado pelo Act of Union de 27 de dezembro de 1813 e finalmente concluído em junho de 1816.

            Em 2 de outubro de 1823 os membros da “Burlington Lodge”, fundada em 1810 e “Perseverance Lodge”, fundada em 1817, se reúnem pela primeira vez na “Emulation Lodge of Improvement for Master Masons” (Loja Emulação de Aperfeiçoamento para Mestres Maçons), com a finalidade de prover instruções para aqueles que desejassem se preparar para cargos de lojas e à sucessão na Cadeira.

            O Emulation working (trabalho Emulação) recebeu seu nome da Emulation Lodge of Improvement cujo Comitê é o curador do ritual por delegação da Grande Loja Unida da Inglaterra, e que autoriza a publicação do livro denominado Emulation Ritual (Ritual Emulação).

            A Grande Loja Unida da Inglaterra não dispõe de nenhum ritual oficial escrito e jamais autorizou a publicação de qualquer forma específica de rituais existentes e consagrados na Inglaterra. Pela Regra (Artigo) nº 155 das Constituições da Grande Loja Unida da Inglaterra, compete as Lojas Simbólicas a regulamentação dos procedimentos das formas de ritual, reservando-se no direito de intervir em qualquer Loja inglesa que adote formas ou modificações entranhas a prática do ritual conforme ensinado desde 1813. Senão vejamos:

 “Lodge may regulate its own proceedings” [Loja pode regular seus próprios procedimentos].

“155. The members present at any Lodge duly summoned have an undoubted right to regulate their own proceedings, provided they are consistent with the general laws and regulations of the Craft; but a protest against any resolution or proceeding, based on the ground of its being contrary to the laws and usages of the Craft, and for the purpose of complaining or appealing to a higher Masonic authority, may be made, and such protest shall be entered in the Minute Book if the Brother making the protest shall so request.

Tradução: [155. Os membros presentes em qualquer Loja, devidamente reunida, têm o direito inalienável para regular os seus próprios procedimentos, desde que eles estejam de acordo com as leis gerais e regulamentos da Ordem; mas um protesto contra qualquer resolução ou procedimento que seja contrário às leis e costumes da Ordem e com a finalidade de reclamar ou atrair uma autoridade maçônica maior, pode ser feito, e tal protesto será anotado no Livro de Apontamentos, se o Irmão que faz o protesto assim solicitar].

Decorre daí a existência, na Inglaterra, das diversas formas de rituais – Emulation, Stability, Bristol, Oxford, Taylor’s, Humber, Logic, West End, etc, pois a Grande Loja Unida da Inglaterra não legisla sobre a forma de ritual adotado pelas suas lojas.

As instruções nos anos iniciais, concentradas no trabalho do Primeiro Grau e preparação dos candidatos à sucessão na Cadeira da Loja, eram realizadas por meio de palestras maçônicas de acordo com o sistema da Grand Stewards’ Lodge [Loja dos Grandes Provedores], cujas preleções descrevem as cerimônias em detalhes. Pelos anos de 1830, conforme prática geral que então havia se desenvolvido, as próprias cerimônias eram também ensaiadas.

Os responsáveis pela condução da Emulation Lodge of Improvement, desde os primeiros tempos, têm adotado a postura de assegurar a prática do ritual aprovado sem permitir sua alteração. Embora não se possa pretender que o atual Ritual Emulação esteja na forma exata do ritual praticado verbalmente há quase dois séculos atrás, as Cerimônias daqueles tempos foram originalmente e especificamente aprovadas pela Grande Loja Unida da Inglaterra, a quem cabe, única e exclusivamente, atualizá-las ou aprovar suas atualizações. Por esta razão, o Comitê da Emulation Lodge of Improvement, sempre considerou que, por razões de confiança, deveria manter sem alteração as formas rituais completas passadas por seus predecessores, e que está fora de sua autoridade fazer qualquer alteração a menos que oficialmente sancionadas por resolução ou aceitação da própria Grande Loja da Inglaterra, por ter sido aprovado originalmente por ela.

            Neste ínterim, houve ajustes ocasionais, de natureza, nos rituais aprovados pela Grande Loja. Os mais significativos foram as variações nos Juramentos, permitidas por uma resolução da Grande Loja em dezembro de 1964 e, mais recentemente a mudança mais extensa no procedimento, introduzida pela resolução da Grande Loja em 11 de junho de 1986.

            A Grande Loja Unida da Inglaterra decidiu que “todas as referências e penalidades físicas fossem omitidas dos Juramentos assumidos pelos Candidatos nos três Graus e pelo Mestre Eleito em sua instalação, mas as manteve em outro lugar nas respectivas cerimônias”. Esta resolução de 11 de junho de 1986 é obrigatória em seus termos, e representa a única mudança mais momentosa feita nas cerimônias desde que elas foram aprovadas pela Grande Loja Unida da Inglaterra após a União das duas Grandes Lojas, em 1813.

            Apesar desses ajustes nos rituais, a política do Comitê da Emulation Lodge of Improvement é preservar o ritual tão próximo quanto possível da forma na qual foi originalmente aprovado pela Grande Loja Unida da Inglaterra, e não permitir emendas cuja autorização não derive da mesma fonte. Assim, embora de tempos em tempos pequenos ajustes foram feitos, sempre com autorização superior, os erros de procedimentos práticos nunca foram permitidos passar sem controle, para que com o transcorrer do tempo não se tornasse prática estabelecida.

            Hoje, há muitos outros sistemas de trabalhar o ritual maçônico e muitos dos maçons mais idosos, acreditam que o modo que eles estão acostumados a levar a cabo os trabalhos em suas próprias Lojas, é o único modo correto. Ocasionalmente, visitantes bem intencionados tentam apontar possíveis erros quando, de fato, as Lojas estão executando a prática padrão no modo do Trabalho Emulação. As práticas contidas neste livro que trata do Ritual Emulação, estão na forma como elas tem sido executadas por muitos anos pela Emulation Lodge of Improvement.

            Afinal, quem é a Emulation Lodge of Improvement for Máster Masons?

Reforçando o que já foi dito no início deste capítulo, a Emulation Lodge of Improvement for Máster Masons [Loja Emulação de Aperfeiçoamento para Mestres Maçons] como o próprio nome já diz, é uma Loja de Aperfeiçoamento para Mestres Maçons cujo objetivo é prover instruções, especialmente, para aqueles que entram na cadeia de sucessão e desejam se preparar para cargos em Loja, almejando alcançar a cadeira principal de uma Loja Simbólica. Ela se reúne no Freemasons’ Hall [Palácio Maçônico], na Great Queen Street [Rua da Grande Rainha] em Londres, semanalmente às 18 horas e 15 minutos das sextas-feiras de outubro a junho, onde demonstra as Cerimônias e Preleções de acordo com o Trabalho Emulação e somente Mestres Maçons podem freqüentá-la.

            Isso posto, caro leitor, observe-se que é preciso conhecer muito bem a história que assinala o surgimento do Emulation working na Maçonaria. Por falta desse conhecimento, os maçons, muitas vezes, involuntariamente até, distorcem as características naturais deste extraordinário ritual. Trata-se de um ritual de fácil execução, mas com nuanças tênues quanto a sua origem.

 

CONCLUINDO E SINTENTIZANDO

 

As formalidades ritualísticas para uso na United Grand Lodge of England [Grande Loja Unida da Inglaterra] foram elaboradas pela Lodge of Reconciliation tendo sido aprovadas e confirmadas pela Grande Loja em junho de 1816. Estas têm sido a base do Ritual Emulação desde sua concepção em 1823. A política do Comitê da Loja Emulação de Aperfeiçoamento tem sido a de preservar o ritual tão próximo quanto possível do formato com que foi aprovado pela Grande Loja, admitindo somente aquelas mudanças aprovadas pela Grande Loja que se tornaram costume estabelecido.

Devido ao fato de que a Grande Loja assumira a opinião de que o ritual não devia ser confiado à impressão, a repetição oral se constituiu no meio de sua transmissão. Foi apenas em 1969 que a Loja Emulação de Aperfeiçoamento patrocinou a publicação da primeira edição do “Ritual Emulação”.

Este ritual ou prática (Emulation working) é a expressão inglesa usada para defini-lo, pela restrição mencionada, era muito pouco ou quase nada conhecido fora dos países de língua inglesa. Todavia, após 1969, quando da liberação para publicação impressa, o ritual vem atraindo cada vez mais interessados, não só no sentido de conhecê-lo como de praticá-lo.

O Ritual se caracteriza por procedimentos muito peculiares, ausentes em outros rituais, pelo despojamento de certas pompas aliado à simplicidade e singeleza, o que acaba lhe conferindo certa gravidade e um ar de sobriedade sem, todavia, torná-lo circunspeto, pode acabar agradando a muitos maçons.

(1) Premier Grand Lodge, com sede em Londres.

(2) The Grand Committee of the Most Ancient and Honorable Fraternity of Free and Accepted Masons According to the Old Instituitions (Grande Comissão da mais Antiga e Venerável Fraternidade de Maçons Livres e Aceitos Segundo as Antigas Instituições).

(3)Seus membros eram constituídos por maçons das duas Grandes Lojas rivais: os “Modernos” e os “Antigos”.

* Este artigo, gentilmente cedido pelo Irmão Anatoli Oliynik, faz parte do Capítulo 4 do seu segundo livro: EMULAÇÃO história, ritualística e rituais.

Anatoli Oliynik (59) é escritor e obreiro da Loja “Laélia Purpurata” nº 3496, ex-Grande Secretário Geral de Orientação Ritualística Adjunto do Rito de York do GOB, secretário da Academia Paranaense de Letras Maçônicas e membro Academia de Cultura de Curitiba.

Endereço: Rua Richard Strauss, 197 - Jd. Schaffer
80820-110  CURITIBA - PR. Fones:  (41) 3338-7594 e (41) 9973-8781
E-mail: ritodeyork@terra.com.br ou anatoli.oliynik@terra.com.br

 

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Abel Tolentino
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Atualização 28/12/2020

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