GRANDES VULTOS DA MAÇONARIA GOIANA
JOÃO DO LAGO NOGUEIRA PARANAGUÁ
JOÃO DO LAGO PARANAGUÁ foi o quarto filho do casal Elsa Nogueira Paranaguá e Lago e João Antônio Pereira do Lago. Nasceu no dia 12 de junho de 1936, na fazenda Maceió, município de Bom Jesus, Piauí. Ainda bebê, com menos de dois meses de idade, seus pais se mudaram para Corrente, localizada no sul do estado do Piauí, cidade natal de sua mãe. Entre seus familiares era chamado de Orison, nome que seria acrescido ao João, mas que não constou no seu registro.
Em julho de 1941, quando estava com cinco anos de idade sofreu a sua primeira grande perda. Sua progenitora faleceu deixando um recém-nascido com três dias de vida, fato esse que abalou toda a família e amigos. Sua mãe, ciente que faleceria em breve, entregou o recém-nascido à sua irmã e cunhado, que não tinham filhos, sendo recebido com muito carinho e amor e criado como filho. Seu pai, consternado com a perda da esposa e, por ser fazendeiro e viajar constantemente, viu-se sem condição de cuidar dos outros filhos ainda pequenos. Por fim, encaminhou seus três filhos mais velhos ao internato do Instituto Batista Industrial de Corrente. João do Lago, por não possuir idade mínima para estudar e ser interno, não lhe foi permitido o ingresso por não haver no instituto o jardim de infância. Contudo, o diretor do internato, enternecido com sua situação, permitiu sua admissão. Era muito comovente vê-lo tão pequeno cumprindo o ritual imposto aos alunos do internato. Sua professora percebia sua vivacidade e inteligência e o cobria de muito carinho. Sempre passava suas férias escolares na fazenda Itajubá, com sua tia Leni da Cunha Nogueira e seu padrinho Oberlin da Cunha Nogueira.
Algum tempo depois, seu pai buscou em outra cidade uma irmã viúva que o auxiliou na criação dos filhos. Aos sete anos de idade, numa manhã de primavera, João do Lago colhia cajus no quintal, quando caiu e ficou em coma, permanecendo nesse estado por sete dias. Ao acordar, o primeiro nome que chamou foi de sua professora, quem amava muito. Poucos anos depois, sua tia faleceu e, em julho de 1947, quando estava com 11 anos de idade, seu pai faleceu. João do Lago e seus irmãos foram separados e ficaram com três tias maternas e o avô, mas se encontravam todos os dias. Em 1955, terminou seu curso ginasial. Em junho de 1956, a convite de sua prima-irmã Júlia e seu esposo Lourival, mudou-se para Goiânia, Goiás, onde permaneceu por um ano, indo depois prestar serviço militar no exército em Ipameri, Goiás, onde ficou conhecido com o nome de guerra Paranaguá. Em Ipameri, concluiu o curso técnico em contabilidade e foi orador de sua turma na cerimônia de formatura.
Posteriormente, foi aproveitado em 1º lugar no curso preparatório de sargentos do exército. Transferido para Brasília, Distrito Federal, onde serviu o Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), foi eleito secretário geral do Clube dos Sargentos e Suboficiais do Exército. Possuidor de inteligência privilegiada, mas também de personalidade forte e marcante, não baixava a cabeça diante de fatos de injustiça e ia de encontro aos que discriminavam os mais humildes. Ademais, corajoso e destemido, lutava em busca de seus ideais. Muitas vezes sofreu castigos no quartel por demonstrar aos superiores a maneira antidemocrática como eram tratados os subalternos. Entretanto, devido a sua convivência alegre, descontraída e sincera com os colegas, dentro e fora do quartel, sempre conquistava a amizade de todos e acabou por se tornar um líder nato.
Em Brasília, prestou concurso para a Assessoria da Câmara dos Deputados. Foi aprovado na primeira etapa, mas, foi impedido de fazer as outras provas, pois se encontrava preso no quartel por haver participado da Revolta dos Sargentos, também conhecida como “Guerrinha dos Sargentos de Brasília”, na data de 12 e 13 de outubro de 1963, ocasionada, principalmente, pelo direito de posse negado a um colega eleito para deputado federal. Ficou cerca de cinquenta dias preso no BGP. Estavam ainda sendo apurando os fatos para o julgamento do processo quando aconteceu o Golpe Militar de 1964. Ao final do processo, em 30 de julho de 1964, foi expulso das fileiras do Exército por meio do Ato do Poder Executivo emitido pelo Presidente da República à época, General Humberto de Alencar Castelo Branco, nos termos da Art. 7º, parágrafo 1º do Ato Institucional de 09 de abril de 1964, publicado no DOU nº 147 de 31 de julho de 1964 e condenado à prisão. Ainda em 1964, escreveu um artigo contra o regime imposto por Castelo Branco, o que agravou sua situação, mas que foi censurado antes mesmo de sua publicação. Em 1964, foi lhe concedida a liberdade condicional, época em que retornou a sua cidade natal. Na luta pela sobrevivência e para passar o tempo enquanto aguardava a deliberação final da justiça militar, trabalhou extraindo rutilo, uma espécie de minério de ferro, que vendia em São Paulo. Ademais, abriu um negócio e trabalhava também na fazenda que herdou de seus pais.
No dia 22 de julho de 1966 casou-se eclesiasticamente com Mariene Isabel de Macedo na cidade de Barreiras, Bahia, e em 7 de agosto de 1966, casaram-se civilmente na cidade de Corrente, PI. Tiveram cinco filhos. Apesar de todas as turbulências e altos e baixos que enfrentaram e do pouco tempo que viveram juntos, foram muito felizes. “Foi uma vida de compreensão. Ele com sua coragem me dava forças para seguir em frente. Era muito compreensivo e carinhoso. Um pai sempre presente”, nas palavras de Elsa Maria.
Em outubro de 1966, com aproximadamente três meses de casado, foi novamente preso e levado para Teresina, Piauí, e posteriormente, transferido para as prisões de Santos Dumont, São João Del Rei e, finalmente, Juiz de Fora, em Minas Gerais. Foi sentenciado pela Justiça Militar, Auditoria da 4ª Região Militar de Juiz de Fora, MG, em processo de subversão, por haver participado da Revolta dos Sargentos. No dia 19 de abril de 1967, o Conselho Permanente de Justiça para o Exército (CPJEx), resolveu, por unanimidade de votos, condena-lo a seis anos de reclusão, como incurso no Art. 130 do Código do Processo Penal Militar (CPPM) que, posteriormente, foi revista para cinco anos pelo Superior Tribunal Militar.
Tal era sua força de caráter, que mesmo sendo solicitado em colaborar para a diminuição de sua pena em troca de informações sobre seus companheiros, João do Lago manteve-se calado e cumpriu integralmente sua pena. Preferiu sofrer todas as atrocidades e manter sua consciência em paz. O quartel em Juiz de Fora, MG, ficou marcado pelo péssimo tratamento alimentar e maus-tratos dados aos presos militares e políticos. Certa vez, foi chamado pelos oficiais, que o pediram para aconselhar e dar assistência ao seu colega Sobral que estava tentando suicídio, pois conseguia levantar a moral de seus colegas quando se encontravam em desespero. Soube contornar e enfrentar situações adversas com coragem e fé. Encontrava conforto e esperança na fé, na leitura da Bíblia e, em Deus, aprendeu a amar e confiar desde criança com a lembrança dos ensinamentos de sua mãe, da Igreja Batista e do colégio.
Ainda em 1967, foi transferido para o Centro de Atividades Penitenciarias do Estado de Goiás (CEPAIGO) em Aparecida de Goiânia, Goiás. Esta transferência foi conseguida com muito esforço e empenho de seu irmão José Francisco Nogueira e de amigos. Para ele, familiares e amigos, esta transferência para Goiânia foi uma benção de Deus, por usufruir do aconchego e carinho da família e amigos, benefício concedido graças ao trabalho que desempenhava na secretaria do CEPAIGO. Aproveitou esse período conturbado e ocupou o tempo lendo bons livros, estudando e se preparando para a vida em liberdade. Em 1968, por decisão do Juiz Auditor da 4ª Região Militar e parecer do Conselho Diretor do CEPAIGO, foi autorizado a trabalhar dentro e fora da penitenciária, em obras ou serviços públicos, na forma do § 1º do Art. 30 do código penal (CP). Em janeiro de 1968, foi colocado à disposição do Departamento de Assistência aos Municípios (DAM), para atuar como contabilista, em atendimento à requisição da Secretaria do Interior e Justiça. Em 24 de dezembro de 1969, escreveu carta ao Presidente da República, solicitando sua liberdade total ou pelo menos parcial para ser possível trabalhar e sustentar a família. Contudo, em 17 de outubro de 1970, foi expedido o alvará de sua soltura.
Logo após sua libertação, prestou vestibular para Direito na Universidade Católica de Goiás, Goiânia, GO, onde se bacharelou em dezembro de 1975. Após sua formatura, montou um escritório de advocacia e contabilidade e prestava assistência jurídica a muitas prefeituras do interior de Goiás. Com dignidade e honestidade exerceu sua profissão não apenas em benefício próprio, mas procurava ajudar e esclarecer os direitos dos menos afortunados. Certo dia, estava a trabalho em uma cidade do interior de Goiás e, em frente à prefeitura passou um menino e uma menina levando um prato com um pão e um bule de café. Perguntou aonde iam e o garoto respondeu que estava levando para o pai que estava preso em lugar do tio que havia fugido. Face ao exposto, acompanhou os meninos até a cadeia, se apresentou ao delegado e explicou que estava cometendo um ato ilegal. O delegado então concordou e consentiu a soltura do preso.
Os anos se passaram e um dia encontrou com seu principal delator, responsável pelos cinco anos sem liberdade. Ficaram várias horas conversando. O delator confessou tudo e chorando pediu perdão e ele também chorando, o abraçou e o perdoou. É incrível como um ser humano normal pode se colocar acima do ódio e da vingança. Foi a última vez que se encontraram.
Sua admiração pela maçonaria veio desde sua adolescência, quando ouvia falar que seu avô e tio eram maçons. Também sofreu influência de Lourival Borges a quem tinha como cunhado e de Felix Soares. Em 13 de julho de 1974, foi iniciado nos augustos mistérios da Maçonaria, pela Aug:. e Res:. Loj:. “Trabalho, Cultura e Perfeição 1887” de Aparecida de Goiânia, GO. Foi elevado e exaltado em 12 de dezembro de 1974 e 15 de maio de 1975, respectivamente. Foi apresentado à ordem pelo Irmão Felix Soares, na gestão do Venerável Mestre Edison Miguel da Silva. Os sindicantes foram os Iirmão Orozino Dorneles dos Santos, Pedro Gonçalves Soares e Colemar Souza.
Em 15 de janeiro de 1979, indo a trabalho para Paranã, no atual estado do Tocantins, o avião em que viajava, devido a pouca visibilidade causada por uma chuva torrencial, colidiu na Serra da Aranha em Niquelândia, Goiás. Os dois tripulantes, João do Lago e outros três passageiros faleceram. Em lugar de difícil acesso, o resgate foi muito demorado. Graças a solidariedade do povo da cidade, dos maçons e do Corpo de Bombeiros de Goiânia, da polícia e da ajuda de preciosos amigos, o corpo foi trasladado para Goiânia. Foi enterrado às duas horas da manhã do dia 18 de janeiro de 1979, no cemitério Jardim das Palmeiras, na presença de um grande número de pessoas, inclusive sua tia-mãe que, em meio à dor e tristeza, ergueu os braços para o céu e disse: “O Senhor nos deu, o Senhor nos tomou, bendito o nome do Senhor”. Sua vida não foi marcada pela longevidade, mas, pela intensidade com que foi vivida. Era alegre, extrovertido e sincero em suas opiniões e amizades.
João do Lago Nogueira Paranaguá deixou a esposa, Mariene Isabel de Macedo e os cinco filhos, Elsa Maria, Laura Lenir, Ana Cláudia, João do Lago e Vanessa Nogueira, sendo que a última, pela grandiosidade de seu coração e com pleno consentimento de sua sábia e maravilhosa esposa, ficou sob os cuidados de sua irmã, Maria Penuá Lago, a quem confiava como mãe. Em todos os corações, deixou uma profunda lacuna e uma imensa saudade Fonte: Site da Loja João do Lago Nogueira Paranaguá 2056.
Abel Tolentino
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Atualização 15/11/2023
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