O APELO DE UM SÉCULO
“Tudo tem o seu tempo determinado”. Eclesiastes, III, 1.
Em 1864 foi publicada em Paris pelos livreiros J.P. Ailluad Guilard a “Bibliotheca Maçonnica ou Instrução Completa do Franc-Maçon”, da autoria de um Irmão português, que modestamente se disse “um Cavaleiro Rosa-Cruz”[i]. Era, aliás, usual, entre os grandes autores maçônicos essa modéstia: o “Recueil Préciux de la Maçonnerie Adonhiramite”[ii], notável obra, de 1786, é de autoria de “um Cavaleiro de todas as Ordens Maçônicas”. A “Bibliotheca Maçonnica ou Instrução Completa do Franc-Maçon” é uma obra clássica, completa, em 3 volumes e 6 tomos, citada como consulta por todos quantos se ocupam de Maçonaria. Nessa obra são considerados os Ritos, então existentes, em 1864. O autor inicia o seu estudo pelo Rito Francês, parecendo ter-lhe simpatia, mas esclarece, no prólogo, em sua parte final, o seu pensamento, com o seguinte apelo, que faz: “Não foi pretensão nossa inculcarmos antes o Rito Maçônico Francês do que outro qualquer, mas bem pelo contrário, nós solicitamos aos Orientes Lusitano e Brasileiro a fazer um Rito novo e independente que, tendo por base os Graus Simbólicos e comuns a todos os Ritos, tenha contudo os altos Graus Misteriosos diferentes e nacionais. Convimos em que semelhante reforma é contrária ao cosmopolitismo e à tolerância maçônica, mas também é verdade que, enquanto os Maçons forem bons patriotas e os povos fisicamente desiguais, a conservação de um Rito universal parece-nos quase impossível: talvez que um tão gigantesco projeto só poderá ter realidade no vigésimo século (pág. 6 do vol. I)”. Assim termina o prólogo. Os grifos são do próprio autor. Era a antevisão do futuro. Só no século XX, realmente, o apelo se tornou realidade. O autor, clássico em Maçonaria, quando se referiu aos Altos Graus “diferentes e nacionais”, não estava, evidentemente, pretendo criar uma Maçonaria nacional, o que seria uma negação da Ordem Universal, tanto que encareceu fossem os Graus Simbólicos do novo Rito “comum a todos os Ritos”. E é nesse ponto precisamente que se resguarda a unidade doutrinária da Ordem. O autor entendeu, pois, corretamente, que se devia manter fidelidade à universal Tradição maçônica do Simbolismo, mas os Altos Graus serem formulados sob a influência do meio histórico e geográfico da Pátria em que se vive, sob a sua índole, inspiração e pendores. É esse, sem dúvida, o ideal em Maçonaria: a diversidade dentro da unidade, atendendo-se ao gênio de cada Raça, porque a Maçonaria não é desnacionalizante. - Agora, perguntamos nós: não veio o Rito Brasileiro realmente sancionar esse apelo do consagrado autor da “Bibliotheca Maçonnica ou Instrução Completa do Franc-Maçon”? Decerto que sim. O Rito despontou em Pernambuco em 1878 com Firmo Xavier, fundou-se em 1914 com Lauro Sodré e implantou-se em 1968, definitivamente, no Grão-Mestrado de Álvaro Palmeira, por corresponder à imposição de nossa vocação e às exigências de nosso tempo. O RITO BRASILEIRO UNE A TRADIÇÃO COM A EVOLUÇÃO: a Tradição é contida nos Rituais dos Graus e a Evolução expressa nos Manuais. Não se contentou com a só Tradição. Os Rituais são imutáveis, enquanto os Manuais são revistos quinquenalmente, para que a Maçonaria esteja atuante na vida dos séculos, que passam. O Rito Brasileiro, a esse respeito, é impar: dá ao Maçom, de maneira sistemática, através dos Manuais dos Altos Graus, a tríplice e indispensável formação: Moral (Graus 4 a 18), Cultural (Graus 19 a 30) e Cívica (Graus 31 e 32). O Grau 33, em seu Manual, estabelece os fundamentos do Humanismo Maçônico. O Rito não veio criar competição no campo maçônico, muito menos qualquer cizânia: apenas assumir a posição, que lhe cabe. A comunidade Brasil-Portugal constitui hoje a expressão maior do mundo latino: com Angola, o Atlântico-Sul é o “Maré Nostrum”. É natural que não fiquemos jungidos, no campo do espírito maçônico, a concepções e interesses alienígenas: nem franceses, alemães, ingleses, escoceses, ou outros. Todos os Ritos forâneos são dignos e respeitáveis, merecem a nossa fraterna consideração e estima. Queremo-lhes todo o bem, ao nosso lado, mas não sob o seu molde e a sua égide. Porque temos alma, caráter, visão e gênio próprios: inalienáveis. ATINGIMOS À MAIORIDADE MAÇÔNICA. Este último quartel do século 20 está bem distante dos séculos 18 e 19.
O apelo, vindo
do Tejo há um século, dirige-se evidentemente a todos quantos, sem
distinção de nacionalidade, em Portugal e no Brasil, praticam a Arte
– Real: todos somos Irmãos. Que se formem, por toda a parte, “urbi
et orbi”[iii],
Lojas do Rito Brasileiro, para que a Ordem Renovada possa enfrentar,
com êxito, o fascinante desafio dos Tempos Novos. Um Rito maçônico, criado no ambiente de nossa Pátria, foi sempre uma aspiração do Maçom do Brasil. Essa aspiração evidenciou-se, pela primeira vez, em 1878, com a “Constituição da Maçonaria do Especial Rito Brasileiro”, em Pernambuco. Damos a seguir o fac-simile da primeira página do artigo do Irmão Mario Behring, na revista “Kosmos”, ano IV n.º 1, janeiro de 1907, sobre essa iniciativa da gloriosa Maçonaria pernambucana, a qual será oportunamente objeto de pormenorizada divulgação.
[i] Miguel Antônio Dias [ii] Louis Guillemain de Saint-Victor [iii] "Para a Cidade e para o Mundo"
Abel Tolentino Atualização 07/07/2020 O que é a maçonaria - Histórico da Loja - Eventos - Fotos - Fraternidade Feminina - O Rito Brasileiro - Peças de Arquitetura - Avental - Brasão
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